Tenho certeza que você já ouviu falar de Jane Austen, e se por acaso você está vindo do Instagram da gambiarra (@gambiarraliteraria) já me viu falar muito sobre tia Jane solteirona. Preciso confessar que estava guardando esse post com muito amor, fiz muita pesquisa e com felicidade apresento para vocês, as mulheres, ou heroínas, que Jane Austen nos presenteou. Ah, e se preparem, pois esse é mais uma série do blog, que crio com o intuito de enaltecer às mulheres protagonistas de grandes escritores.
Jane Austen foi uma romancista inglesa que viveu mais de duzentos anos atrás, as obras dela são tão expressivas no nosso cotidiano, e trazem um ar de liberdade tão grande para as mulheres contemporâneas que é surreal pensar que ela escreveu todas essas histórias há tanto tempo. Para explicar melhor a importância dessas personagens, hoje eu vou apresentar para vocês cada uma delas, ou melhor, das obras mais conhecidas de Austen no Brasil.
Elinor Dashwood (Razão e sensibilidade)* - A irmã mais velha de três meninas é levada sempre pela razão, claro, pelo fato de ser a mais velha e se sentir responsável por toda a família, já que seu pai acaba de morrer e elas foram jogadas em um apertado chalê, sempre dependendo da boa vontade de parentes abastados. Elinor, pelo bem de todos, sufoca seus sentimentos, mesmo quando provocada pela noiva do homem que ela está apaixonada. Olha, pensa num sangue de barata essa mulher, mesmo fervendo por dentro ela está sempre fazendo a serena. Por final, Elinor passa por várias confusões e mesmo vítima de muitas injustiças e babaquices mesmo, ela consegue se casar com o homem que ama e constrói uma vida bem humilde com ele.
Marianne Dashwood (Razão e Sensibilidade) - A irmã do meio de Elinor tem a cabeça na lua, mesmo com uma situação financeira das piores e sendo vítima de uma lei machista, ela não se abala, e se adapta conforme a vida muda. Esperando pelo príncipe encantado, Marianne sempre achou que amor de verdade é amor a primeira vista, e é assim que ela cai nas garras de um devasso que se passa de bom moço. Ela acaba por perceber que as aparências enganam e que não existe príncipe encantado. Além disso, depois de muito sofrer de rejeição e decepção, Marianne vê que ninguém nunca vai corresponder cem por cento as expectativas dela e que deve gastar amor e gratidão com quem lhe é recíproco.
Elizabeth Bennet (Orgulho e preconceito) - Sabe aquela sua amiga barraqueira que não tem papas na língua? (caso você não tenha uma amiga assim, saiba que você é essa pessoa) Essa é Lizzie Bennet, a segunda mais velha de cinco irmãs, inteligente, sagaz e cheia de cortes bem treinados, ela sempre tem uma resposta afiada para tudo. Aquele tipo de mulher que está sempre ajudando todo mundo e que nunca desiste das amigas. Conselheira e amigável, Lizzie acha que consegue julgar uma pessoa já na primeira conversa, mas o que dizer quando a primeira conversa com um belo ricaço promissor é uma chuva de grosserias e estupidez? É assim que ela conhece o amor de sua vida, e carimba babaca na testa dele sem nem pestanejar. O que acontece é que conforme o tempo passa, e Elizabeth erra seus julgamentos cada vez mais, ela descobre que está sendo precipitada, levando a si mesma em uma reflexão contínua de autoconhecimento. Por final, ela percebe que não pode julgar alguém sem conhecer suas razões, mas não perde seu jeito desenfreado e alegre de falar o que pensa.
Fanny Price (Mansfield Park) - Fanny é a mais diferente de todas as heroínas de Austen, muitos dizem que ela é sem sal, e talvez a pior história da autora. Não concordo, pelo contrário, acho que Fanny engrandece ainda mais a obra de Jane, já que a autora sempre escreveu sobre mulheres, e nós não somos todas iguais, embora queiram nos encaixar em estereótipos. Fanny é levada pelos tios para servi-los enquanto recebe a mesma educação dos primos, coisa que não conseguiria se ficasse em casa, pois com a família pobre e numerosa, lá ela não iria muito longe. Desde sempre Fanny foi lembrada de qual era o seu lugar, um mero peso para a família de seu tio, que lhe estava fazendo um favor, enquanto ela devolvia o favor os servindo e não sendo um fardo. Foi isso que ela sempre fez, tentou ser boazinha para não atrapalhar ninguém, mas ao se apaixonar pelo primo, Fanny sabe que foi longe demais. Quando um homem rico a pede em casamento, insistindo que a ama, ela é forçada pelo tio a aceitar. Negando tal casamento ela é levada de volta para a casa dela, como se aquilo fosse um castigo. No final, o homem é descoberto como um mau elemento e Fanny volta a casa dos tios, como se tivesse sido absolvida do crime de se rebelar contra a proposta de casamento. Ela viveu com migalhas sempre, e achava que por ser pobre, o que recebia de seus tios era mais do que merecia. Todos nós já conhecemos mulheres assim.
Emma Woodhouse (Emma) - E aqui está mais um mulher polêmica de Jane Austen. Ao contrário das outras heroínas, Emma é insuportável. Se acha a última Coca-cola do deserto e submete a todos à suas maquinações infantis, machucando os sentimentos de muitas pessoas. É seu amigo e amor secreto que a ajuda perceber como interferir na vida alheia da maneira como ela faz é completamente diferente de ser um bom exemplo a ser seguido. Egoísta e egocêntrica, Emma quer que todos vivam conforme suas regras, o mais louco de tudo, é que não é por maldade. Ela só quer que todos sejam felizes no final, e acha que só conseguiram isso com a ajuda dela.
Catherine Morland (A abadia de Northager) - Também conhecida como "todas nós", Catherine gosta de imaginar que é uma heroína como aquelas dos livros que lê. Ao viajar com uma família vizinha da sua, ela acha que está saindo para sua grande aventura da vida. Mas é nessa viagem que Catherine descobre que as coisas não são tão maravilhosas assim e que o mundo pode ser bem cruel. Ao final, mesmo passando por poucas e boas na mão de uma megera oportunista, ela consegue sim ser heroína da própria vida, aprendendo mais e mais e se redescobrindo.
Anne Elliot (Persuasão) - Anne é a heroína mais velha de Austen, ela já passou por seu amadurecimento e sabe das cagadas que fez e agora está passando por um baba, baby da Kelly Key reverso. Quando mais nova foi perdidamente apaixonada por um homem pobre, antes de se casar com ele foi persuadida a desistir daquele sonho, pois não seria bom para o nome da família. Anos depois o homem reaparece, capitão da Marinha e podre de rico. Anne percebe que as coisas poderiam ter sido muito mais felizes para ela caso não tivesse sido persuadida, já que agora vive de favor com uma família que gasta o que não tem. A dor de Anne é real, e reflete a vida de muitas mulheres até hoje.
Espero que vocês tenham gostado desse post, e fiquem ligados para mais novidades dessa série de post sobre personagens femininas.
*Todos os títulos deste post usaram a edição mais atual dos livros.
Comentarios