Meu povo dessa nação de leitores, estou de volta com mais um gambiarra explica, dessa vez um livro mais leve, porém, ainda assim relevante.
Quando vi o lançamento nacional de Os noivos do inverno, achei que seria mais um livro bobinho sobre poderes mágicos e casamentos foçados, mas que no final dão super certo. Quando peguei o livro em mãos, descobri a informação de que Christelle Dabos tinha ganhado um prêmio com ele. Foi isso que me fez frear na ideia de que era uma coisa boba, mas nada tinha me preparado para o elevado nível de detalhes sugestivos, no estilo mensagem subliminar, que a autora carrega a linguagem da narrativa.
Caso você não saiba do que se trata Os noivos do inverno, sugiro que vá até o Instagram da gambiarra (ludays_gambiarraliteraria), para ler a resenha detalhada. Adiantando o trabalho, caso você queira ler primeiro este post, o livro narra a jornada de Ophelie uma jovem animista que consegue viajar entre espelhos e ler a história de objetos. Ophelie é moça simples, que recusou todos os casamentos até então, quando um estrangeiro é prometido a ela, e a jovem não pode fugir. Ophelie vai embora com seu noivo, e as coisas começam a ficar cada vez mais estranhas.
Agora que você já conhece a premissa da história, ou já leu a resenha no IG, bora, que hoje tem.
Primeira coisa, sabe quando uma frase é tão repetitiva que começa a incomodar, irritar e chatear? Pois é, na maioria das vezes isso é cacoete do autor, e acontece mais em livros de romance. Exemplo? O famigerado "soltei o ar que nem sabia que estava segurando" ou então "meu coração pulou/parou/tropeçou uma batida". Quando Dabos me deu pela vigésima vez a explicação de que Ophelie não conseguia enxergar o rosto de seu noivo fiquei com o pé atrás. Como uma autora com tamanho cacoete ganha um prêmio tão importante? Respirei fundo e voltei a leitura, começando a ver o que estava escondido nas entrelinhas.
Ao repetir que Ophelie não consegue ver o rosto do noivo, no início da narrativa, a autora se refere ao fato de que, embora a protagonista saiba quem é aquele homem e o que ele representa, ela não o conhece realmente, não consegue ver sua verdadeira face. O que deixa uma dica para o leitor lá no final do livro, pois em dado momento, Ophelie observa que consegue enxergar o rosto do noivo mesmo com a diferença de altura, isso ocorre logo que a jovem começa a confiar em seu futuro esposo.
Uma xícara pode ser só um objeto, mas para Dabos foi o suficiente para representar uma tentativa de trégua, uma gentileza em troca de outra gentileza. Isso acontece durante a viagem dos noivos de volta para a terra dele. Ophelie sente que precisa conversar com seu noivo, mesmo que ele a ignore o tempo todo. Ela leva algo para obter algo em troca, não apenas uma desculpa, mas uma xícara de chá. Quando a conversa dá em nada o conteúdo esfria.
Como todos os objetos de Anima, terra de Ophelie, o cachecol de estimação da moça também tem vida. O cachecol é descrito como uma coisa velha e feia, mas que a jovem sempre mantem por perto, já que demorou para conquista-lo. O cachecol velho representa o passado de Ophelie, que está sempre se prendendo a ela.
Dentro da narrativa existem vários de detalhes deste tipo, que estão ali para mostrar melhor ao leitor quem são aqueles personagens e o que são capazes de fazer, as vezes até o futuro deles, sem precisar ficar descrevendo e ainda por cima exige muito da atenção do leitor. Alguém que não se ligue muito aos detalhes, ou não conheça de elementos da narrativa pode achar o livro até bem sem graça, ao não perceber a riqueza que está nas entrelinhas.
Me interessei ainda mais pelo livro. Adorei essas sutilezas que você disse perceber no livro, não gosto de livros que entregam tudo facilmente subestimando a inteligência do leitor. Você fez uma análise incrível!