Acho muito estranho dar nomes normais e literais para quadros, vocês já devem ter percebido pelo Insatagram da Gambiarra Literária que os nomes de quadros sempre vem acoplados com uma piadinha, quase sempre, sem graça. Espero que saibam que Gambiarra explica é mais uma dessas piadas, e que existe muita coisa nos livros que vaza do meu radar de análise, e eu acabo sem perceber.
Hoje, escolhi alguns temas e elementos narrativos de O conto da Aia para apresentar para vocês aqui, coisas assustadoras, que vão te tirar o sono. Então, se prepare, pois a apatia futurística de Margaret Atwood incomoda e faz doer.
Para quem não sabe, O conto da Aia, livro escrito por Margaret Atwood em 1985, é uma distopia focada no papel da mulher em uma sociedade em que houve um golpe de governo e a democracia se transformou em um império, onde a religião do imperador era seguida a risca.
Com essa bela e breve visão do livro, introduzo aqui a minha análise, e a que mais me atormentou durante a leitura. A protagonista, que não revela seu nome verdadeiro, conhecemos apenas por Offred (tradução: do Fred) já que era Aia de um Comandante chamado Fred, conta aos poucos como sua vida virou de cabeça para baixo repentinamente, por causa do novo governo.
Essa ideia de mudança repentina é assustadora, Offred conta como foi que uma mulher independente, cheia de afazeres familiares e profissionais, uma mulher formada e dona de si, com uma filha pequena para criar, se transformou em um útero ambulante.
Em 1985, a independência das mulheres estava engatinhando para o que temos hoje, imagina só, você, mulher de 2018 ser obrigada a largar tudo, dar todas as suas economias para o homem mais próximo de sua família e deixar que o governo te diga que tipo de atribuição você pode ter. Isso da noite para o dia. Do tipo, fui dormir de pijama curto e acordei com a polícia do lado de fora da minha casa para me matar porque dormir de pijama curto é indecoroso segundo a religião do meu imperador.
Atwood, consegue colocar ainda mais medo quando dá a Offred uma voz apática nos piores momentos. Faz a protagonista transmitir mais do que desesperança, mas uma indiferença mórbida, do tipo que nos faz questionar: se ela tivesse agido de outro modo, teria valido a pena? Algumas vezes, o discurso é tão descrente que cheguei a pensar: não seria melhor se ela estivesse morta?
Tal sofrimento repentino, mesmo que descrito de uma maneira tão desoladora, afeta o leitor de um jeito que talvez, a mais sangrenta cena de violência, não afetaria. E aí, chegamos a razão de eu ter tanto receio de fazer essa leitura, e faz bastante tempo que tenho esse livro no meu kindle. Por tratar de mulheres sendo submetidas as vontades de homens no poder, pensei que veria muita violência, assim como a maioria das distopias carrega, mas Atwood conseguiu me deixar mal de um outro jeito, do jeito que só uma sociedade sem saída consegue ficar, sem esperanças.
Espero que vocês tenham gostado do post. Continuem acompanhando, vai ter muito mais Gambiarra explica, estou aceitando sugestões também. Não deixem de passar lá no Instagram @ludays_gambiarraliteraria e bora fazer da literatura a nossa nação.
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